Santos, glórias no campo, tragédias nas finanças.

O texto que segue abaixo reproduzido no Blog DNA Santástico foi extraído de coluna originalmente publicada no site Ribeirão Preto Online pelo jornalista e ex-narrador esportivo Sr. Flávio Araújo, amigo que tive a honra de conhecer pessoalmente na cidade na qual meus pais residem.

Flavio Araujo - Blog DNA Santastico
Sr. Flávio Araújo

O texto aborda um problema crônico do Santos que já vem de longa data…

SANTOS, GLÓRIAS NO CAMPO, TRAGÉDIAS NAS FINANÇAS

Já contei o episódio, mas a ocasião é propícia para repeti-lo e acrescentar algumas pitadas que ficaram faltando nas versões já publicadas.

É do conhecimento geral que o Santos F.C. com todas as suas glórias e tradições vive uma das piores fases em sua vida com suas finanças mais estraçalhadas que as da Petrobrás.

Ia escrever do Brasil, mas não posso esquecer que nosso país é bendito por natureza e aquinhoado por Deus o que permite que nem os ladrões que o dominam consigam destruí-lo e daqui a pouco estará superando os obstáculos de momento.

Com a Petrobrás e com o Peixe já será um pouco mais difícil.

O Santos sofre de um problema crônico de má gestão que dura dezenas e dezenas de anos.

Creio mesmo que sua vida inteira.

Cofre Vazio - Blog DNA Santastico

Incrível, mas a verdade é que nem a presença de Pelé e a fase dourada quando o clube faturava quanto queria em amistosos internacionais livrou o clube de maus dirigentes.

Depois do período de Athiê Jorge Cury, protegido pelo guarda-chuvas marca Edson o Santos mergulhou em inúmeras crises, uma sucedendo à outra.

Com uma facilidade extraordinária para revelar valores, com uma atração notável sobre outros que procediam de locais diferentes, mas que se babavam para ali jogar (Carlos Alberto Torres, Calvet, Ramos Delgado, Gilmar, Mauro, tanta gente…) o Santos sempre foi a flor mais bela do futebol brasileiro para aqueles que apreciam o esporte pela magia que pode conter e não apenas pelo entusiasmo do torcedor.

Aqui para nós, torcedor fanático não vê o jogo: fica pulando e berrando e depois vai perguntar a um vizinho quem foi que marcou o gol ou como foi o drible.

Sempre vi futebol como quem acompanha um bom filme ou uma peça teatral principalmente quando o jogo é bom, mas sem desprezar qualquer pega de várzea.

Mesmo nos meus tempos de acompanhar os jogos nas várzeas de minha cidade ou nas centenas de terrões paulistanos fui aos locais para apreciar o possível espetáculo e não para zoar.

Vê lá se quem acompanha o jogo pulando e gritando como um bando de loucos ou berrando porco, porco, ou xingando o juiz nesse estribilho de péssimo gosto que agora inventaram está vendo aquilo que de melhor pode rolar dentro de um gramado?

Bem, mas isso é outra estória que fica para um outro programa.

Estou falando da crise financeira do Santos, de suas gestões tradicionalmente erráticas e uni os fatos com a paixão que leva torcedores a fazer loucuras acobertando dirigentes que na surdina “fazem” dinheiro protegidos pelo fanatismo das gerais e arquibancadas.

Em certa partida do Santos na Vila Belmiro, jogo contra o Taubaté, tivemos que sair protegidos pela polícia e por alguns santistas mais esclarecidos.

Foi quando conheci nossos anjos da guarda de ocasião: Esmeraldo Tarquínio, de quem depois me tornei amigo e colega e Mário Covas, um político iniciante, mas que tinha a cabeça no lugar.

O presidente do Santos era Modesto Roma, um senhor com um imenso corpanzil pleno de enxúndias, pai do atual presidente e comerciava com importação de especiarias espanholas.

Para variar o Santos vivia uma de suas rotineiras crises financeiras e se sustentava nos gordos cachês arrecadados nos amistosos e que tinham alta cotação em dólares pela presença de Pelé.

Foi numa dessas ocasiões em que a maleta que conduzia os dólares de uma excursão na África desapareceu em pleno voo sobre o Oceano Atlântico.
Mistério… mas só um dos muitos.

Pedro Luiz, além de grande narrador era um comentarista dos mais combativos e chamou em uma de suas catilinárias ao presidente do Santos de contrabandista de azeite.

Não estou dizendo “ni que si, ni que no”, apenas recordando o que aconteceu em razão daquele comentário.

Havia em Santos na época um narrador esportivo, por sinal de boa qualidade e que era o dono de grande audiência local.

Ernani Franco, o seu nome, Rádio Atlântica de Santos, a sua emissora.

O narrador santista comprou a briga em nome da diretoria do Santos e no primeiro jogo na Vila Belmiro pagamos o pato.

Com juros e correção monetária, sem laranja e sem azeite.

Quando conseguimos chegar à nossa viatura da mesma só sobravam alguns pedaços de lataria retorcida.

Pedro Luiz, por sinal, nem estava presente.

Igual ao muitas vezes acontecido com Armando Marques e Arnaldo Cesar Coelho saímos da Vila Belmiro de madrugada e de camburão da polícia.

Não sei se o atual presidente do Santos segue o mesmo ramo comercial de seu pai e nem estou comentando sobre o tema do comentário.

Sei que tudo continua como dantes em matéria de finanças nesse clube tão valoroso e que se constituiu numa das glórias do futebol brasileiro na época de nossas grandes conquistas.

Modesto - Benção - Blog DNA Santastico
Recém eleito, Modesto Roma Júnior abraçou a ideia de “abençoar o clube” e recebeu bênção de Frei André em meio a atual crise financeira. (Foto: Divulgação / Dennis Calçada / Assessoria Santos FC)

Creiam que as glórias não são apenas por obra de Pelé, mas as crises são todas pelos péssimos dirigentes que conseguem comprar Leandro Damião por uma fortuna e pagar para que ele vá jogar no … Cruzeiro.

Dirigentes que tentam levar à falência o próprio clube com a Vila Belmiro balançando numa pendência judicial.

Há pouco tempo a maternidade santista revelou uma nova fornada e entre eles estava Neymar que poderia ter rendido uma fortuna ao clube.

Neymar enriqueceu rapidamente fruto dos entendimentos de seu pai com o Barcelona.

Neymar, pai e filho, estão milionários e o Santos tão pobre quanto sempre.

O craque pode merecer o muito que ganhou e ganha, mas o Santos não merece sofrer o que sofre.

Bem, pelos dirigentes que possui bem que merece.

Como comentei da riqueza de valores que o Peixe revela sei que quando Neymar surgiu outros de grande potencial estavam na mesma safra.

Paulo Henrique Ganso era um deles, mas havia mais.

Muitos foram queimados pela incapacidade diretiva e outros estão ganhando espaço em outras equipes.

Ia prosseguir nessa toada contando outras estórias, mas leio agora da situação aflitiva por que passa Dalmo Gaspar, o autor do gol da vitória na conquista do mundial de 1963.

Um jogo histórico e decisivo e que Pelé, que não jogou, chamou de prorrogação em sua biografia.

Foi simplesmente o terceiro jogo diante do Milan e com a ausência de Pelé o penal decisivo deveria ser cobrado por Pepe.

Dalmo, corajosamente assumiu a responsabilidade e … cumpriu.

A filha de Dalmo está vendendo a medalha de ouro que o atleta recebeu na ocasião e segundo sua própria informação para pagar o tratamento médico necessário ao pai.

Houve antes uma passagem semelhante com Joel Camargo, retratada no filme “Boleiros”, de Ugo Georgetti.

No filme o grande zagueiro, um dos primeiros convocados por João Saldanha para a equipe do Brasil na Copa de 1970 é retratado como “Paulinho Majestade” e embora ostentasse na película uma situação de poder tinha colocado à venda suas medalhas para poder se alimentar.

Joel Camargo, por sinal, já nos deixou.

O Santos está perdendo seus melhores e poucos bons valores da atualidade na justiça por falta de pagamento.

Com a incompetência dos homens que o dirigem teria condição para amparar aqueles que construíram sua glória?

O tema não vai ficar por aqui.

(Flávio Araújo)

Saiba mais sobre Flávio Araújo

Flávio Araújo, nasceu na cidade paulista de Presidente Prudente, lá iniciou sua carreira no rádio em 1950.

Depois militou no rádio esportivo e na imprensa esportiva da cidade de São Paulo cerca de 30 anos.

Trabalhou de 1957 até 1982 na Rádio Bandeirantes, onde se consagrou um maravilhoso narrador esportivo.

Flávio Araújo em 1960 narrando pela Rádio Bandeirantes, em Cáli, na Colômbia.

Encerrou suas atividades na cidade de São Paulo em 1986 na Fundação Cásper Líbero como Superintendente de Esportes da Rádio e TV Gazeta, nos tempos do saudoso Constantino Cury no comando do tradicional grupo de comunicação da Avenida Paulista.

Posteriormente trabalhou por mais 10 anos como comentarista esportivo na Rádio Central de Campinas-SP (de propriedade do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia).

Flávio Araújo também foi co-proprietário da Rádio Cultura-AM de Poços de Caldas-MG.

A narração do milésimo gol do Rei Pelé escolhida pelos produtores do filme Pelé Eterno para integrar a obra é de Flávio Araújo.  Aliás, segundo Milton Neves, Flávio Araújo foi o locutor que mais narrou jogos do glorioso Santos Futebol Clube e gols do Rei Pelé.

Flávio Araújo e Milton Neves em 2001.

Ao longo de sua brilhante carreira transmitiu tudo sobre futebol, boxe, basquete e automobilismo.

Atualmente Flávio Araújo reside numa bela e tranquila cidade do interior paulista, onde ainda milita com histórias do futebol escrevendo colunas para sites e jornais.

Vale a pena conferir abaixo entrevista concedida, em 2009, por Flávio Araújo para André York do Programa Arremate Final. Contém áudios espetaculares de narrações de Flávio Araújo.

Bom, é isso aí! O Blog DNA Santástico, na figura de seu mantenedor Edmar Junior, agradece ao Sr. Flávio Araújo pela autorização para publicação de vossos textos no blog e parabeniza-lhe pelos excelentes serviços prestados ao esporte ao longo de toda sua trajetória.

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