Caçadas de Pelé

Em 1962, de férias do Santos, Pelé visita com o pai, Dondinho, fazenda da família Sbeghen e se diverte caçando e pescando.

Por Wagner Teodoro

O ano era 1962 e Pelé já era campeão mundial pela Seleção Brasileira e iria conquistar o bi pelo Brasil na Copa do Mundo do Chile, faturar o tri paulista, bi da Taça Brasil, ser campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes pelo Santos na mesma temporada. Além disso, o Atleta do Século estava no meio de sua incrível sequência como artilheiro do Paulistão por nove anos consecutivos (1957 a 1965). Ou seja, Pelé já era Pelé.

Porém, naquele momento, estava de férias e visitava a família em Bauru depois de atuar pelo Peixe e conquistar os títulos paulista (bi) e da Taça Brasil em 1961. E foi na sua folga que fez um passeio à Fazenda São João, da família Sbeghen, em Mineiros do Tietê (70 quilômetros de Bauru), para viver um dia de caçador e pescador.

Ao lado do pai, Dondinho, Pelé visitou o local várias vezes, convidado por Jayme Antônio Sbeghen, então diretor do Bauru Atlético Clube.

Oswaldo Sbeghen comenta que, nos finais de temporada com o Santos, Pelé voltava para Bauru e fazia visitas à fazenda de sua família.

“No fim da temporada, o jogador tem folga, férias, e meu irmão (Jayme) o pegava em Bauru – meu irmão era diretor do BAC e tinha muita amizade com a família do Pelé, era muito ligado ao Pelé e ao Dondinho – e vinham fazer um passeio”, relata.

A última visita foi em 1962. O pai de Oswaldo, José Sbeghen, e o irmão, Jayme (ambos já falecidos), foram os “cicerones” dos Nascimento na Fazenda São João.

Na foto, José Sbeghen (segundo à partir da esquerda) e os filhos Jaime e João, com Pelé
Na foto, José Sbeghen (segundo à partir da esquerda), os filhos Jaime e João e amigos com Pelé

“A última vez ele já tinha ido embora (foi para o Santos em agosto de 1956) e voltou. Meu pai (Jayme) gostava muito dele e eles tinham muita amizade”, observa Regina Helena Sbeghen Yassuda, que era criança na época.

As crianças da família Sbeghen se acostumaram com a presença do maior jogador de todos os tempos na fazenda e guardam lembranças das visitas. “Ele era muito brincalhão e gostava de pescar”, aponta Lilian Clarisse Sbeghen Matheus. “Ele conversava com a gente, era expansivo. Era uma pessoa comum, ficava aqui e passava um dia gostoso”, lembra Regina.

Entre as lembranças, as então meninas guardam as observações que faziam do já famoso Pelé e do pai, Dondinho.

“A gente ia à beira da represa para vê-los pescar”, recorda Lilian. “Ele também ficava muito no terreiro e gostava de ver o café secando no sol”, acrescenta. Lilian revela que as meninas da família não se arriscavam nas caçadas.

Na fazenda, Edson Arantes do Nascimento deixava o Pelé um pouco de lado e arriscava a pontaria afiada dos gramados em busca de alvejar codornas e inhambus distraídos em uma época em que a caça era permitida e que a consciência ecológica era algo fora de cogitação.

PESCARIAS

O ainda quase menino Edson – tinha 22 anos na época e completa 73 anos nesta quarta-feira – também tentava a sorte em pescarias na represa da propriedade dos Sbeghen em busca de fisgar tilápias, lambaris e traíras que habitavam as tranquilas águas, hoje tomadas por piranhas. Porém, o que valia mesmo era a diversão. “Eles vinham fazer uma coisa que não estavam acostumados. Nem era pela caça ou pesca, era um lazer. Era uma brincadeira para descontrair mesmo”, considera Regina.

Primos de Lilian e Regina, José Sbeghen Neto e as irmãs Maria Cristina Sbeghen Schmidt e Sônia Maria Sbeghen moravam na fazenda e também se acostumaram com as visitas do amigo famoso. Sbeghen Neto, que tinha cinco anos, lembra a visita de 62.

“Eu nasci e morei aqui até meus 21 anos. E me lembro da visita dele mesmo tendo cinco anos. Só não me recordo se bati uma bolinha com ele”, brinca. “É bem provável porque todo mundo jogava bola aqui no terreiro de café. Todos gostavam muito”, destaca. Sbeghen Neto aproveitou a para acompanhar Pelé e Dondinho juntamente com o avô, José Sbeghen, e o pai, João Sbeghen Neto. “Eles andaram bastante o dia todo, só não me lembro se conseguiram pegar algum peixe”, relata.

A última visita oficial de Pelé a Bauru foi em 1975, quando recebeu o título de cidadão bauruense.

Originalmente publicado em: JCNET (Bauru e região).


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