Conclui recentemente a leitura do livro “VIAGEM EM TORNO DE PELÉ” de 1963, cuja autoria é de Mário Filho, consagrado jornalista e escritor, que após sua morte em 1966 teve o nome emprestado na forma de homenagem ao antigo Estádio Municipal do Maracanã que passou a ser denominado oficialmente como Estádio Jornalista Mário Filho.
![Capa do livro VIAGEM EM TORNO DE PELÉ](http://dnasantastico.files.wordpress.com/2013/01/1963-viagem-em-torno-de-pelc3a9.jpg)
No livro Mário Filho relata os primeiros anos da biografia do Rei do Futebol, desde quando este ainda era apenas um menino apelidado de Dico, a chegada e primeiros anos no Santos Futebol Clube, passando pela consagração na Copa do Mundo de 1958 nos gramados da Suécia e finaliza com um capítulo sobre o reinado de Pelé.
![Pelé e Mário Filho](http://dnasantastico.files.wordpress.com/2013/01/mario-filho-e-pele-blog-dna-santastico.jpg)
E foi justamente este último capítulo do livro que mais chamou minha atenção, por dois pontos em especial:
- O forte assédio que Pelé e os dirigentes do Santos recebiam dos times europeus que desejavam contratar o Rei do Futebol, a maneira como eles lidavam com isto e a semelhança de tal situação com o que vivenciamos nos dias atuais no que diz respeito ao também craque Neymar.
- A coragem dos dirigentes do Santos Futebol Clube naquele tempo, até mesmo diante da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e como hoje em dia as coisas são diferentes.
O ASSÉDIO
Sobre o assédio ao Rei Pelé, na página 294, o autor conta que:
O Santos recebeu uma oferta de cinquenta milhões pelo passe de Pelé.
Viu-se, então, um rapaz de dezoito anos não se perturbar com os milhões do Real Madrid.
Pelé não tinha a menor dúvida de que a coroa era dele. Preferia o Brasil.
Modesto Roma (Dirigente do Santos) achou graça na proposta do Real Madrid. “Cinquenta milhões só?” O Real Madrid se dispôs a oferecer mais, a pagar o que o Santos quisesse.
“O Real Madrid – respondeu Modesto Roma – não tem dinheiro para comprar Pelé.”
![Modesto Roma](http://dnasantastico.files.wordpress.com/2013/01/modesto-roma-blog-dna-santastico.jpg)
Já à partir da página 308, Mário Filho narra o assédio da Internazionale de Milão:
– Faça um preço, imagine uma cifra, não tenha medo de pedir muito. Peça alto. Queremos uma cifra – era o que diziam os italianos em telegramas angustiantes.
A resposta de Modesto Roma foi a de que não havia preço para Pelé. A mesma resposta que dera ao Real Madrid.
Modesto Roma recusava-se a pensar numa cifra. Rasgava os telegramas da Internazionale.
Na página 314, o autor conta que o Santos Futebol Clube estava em Paris e o Presidente Athié Jorge Cury não saía de perto de Pelé. Era para responder a uma pergunta invariável: Pelé será vendido?
Não há dinheiro que compre Pelé, respondia o Presidente Athié.
Já Pelé, apenas dizia:
– Eu sou jogador do Santos. Tenho um contrato e vou cumpri-lo.
![Pelé e o Presidente Athié Jorge Cury](http://dnasantastico.files.wordpress.com/2013/01/pele-e-athie-blog-dna-santastico.jpg)
Na página 327 o autor menciona o Pepe Gordo, um torcedor do Santos, que tratava dos negócios de Zito e ia tratar dos negócios de Pelé. Na primeira operação que fez para Pelé deu-lhe um lucro tão grande que o decidiu de vez. Pepe Gordo, porém, tinha uma condição:
– Eu quero um compromisso de honra: você nunca deixará o Santos.
Pelé assumira o compromisso. Pepe Gordo era Santos, mas era Pelé.
![Pelé e Pepe Gordo](http://dnasantastico.files.wordpress.com/2013/01/pele-e-pepe-gordo-blog-dna-santastico.jpg)
A partir da página 332, Mário Filho conta que:
O Santos havia conquistado o Torneio de Paris e seguiu para conquistar o Torneio da Itália, aclamado como o maior time do mundo. Era o time que tinha Pelé, nenhum outro time podia comparar-se ao Santos. A cada exibição de Pelé os clubes italianos aumentavam as ofertas para conquistá-lo. Pepe Gordo não deixava Pelé um só instante. Era Pelé, mas era Santos. Tinha a palavra de Pelé de que não deixaria nunca o Santos. Mas o que ofereciam a Pelé era para abalar qualquer um. Primeiro foi o Inter: quarenta milhões de luvas, à vista, casa e carro. E era para começar a conversa.
– E você não precisa vir já. Esperaremos até depois do campeonato do mundo.
Pelé recusou:
– Não penso em sair do Santos ou do Brasil.
O dinheiro não era tudo. Sentia-se preso ao Santos, que lhe dera a oportunidade de jogar no escrete brasileiro com dezessete anos. E mais preso ao Brasil ainda.
Pepe Gordo ficou de coração parado quando a Juventus ofereceu a Pelé trezentos mil dólares. Se ofereciam assim trezentos mil dólares, de cara, chegariam a quinhentos mil.
Pelé não se perturbou.
– É muito dinheiro, mas não saio do Brasil.
Foi o que fez Pepe Gordo dizer:
– É Deus no céu e Pelé na terra.
Ao ler as situações acima mencionadas é impossível não ter a sensação de que atualmente estamos vivenciando a mesma história, espero que Neymar faça como Pelé e jamais deixe o Santos Futebol Clube.
CORAGEM SANTISTA
Na página 315, o autor conta que o Santos Futebol Clube de Pelé & cia estava dando show no Torneio de Paris, em paralelo a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) organizava um jogo entre brasileiros e chilenos em benefício das vítimas do terremoto no Chile e do desastre de Orós.
O Presidente Juscelino Kubitschek patrocinava a partida. Daí o esforço da CBD para trazer Pelé. O Santos respondeu que tinha um contrato a cumprir e que o contrato exigia a presença de Pelé em todos os jogos.
A CBD não abria mão de Pelé e ameaçou suspender a temporada do Santos. Enquanto os telegramas iam e viam, a partida Brasil e Chile foi realizada sem Pelé e o Santos continuou a temporada na Europa.
Finalmente a CBD tomou uma decisão: o Santos teria de regressar imediatamente, seria punido severamente se realizasse mais um jogo. Não havia, porém, mais necessidade de Pelé. O Santos fez um apelo. Teria de pagar uma multa pesadíssima se não acabasse a excursão. A CBD terminou concordando.
Bons tempos em que o Santos tinha força política nos bastidores e principalmente coragem para enfrentar até a então toda poderosa CBD, que mais tarde deu lugar a atual CBF, essa mesmo que nos dias atuais avaliza a convocação do craque Neymar para amistosos caça-níqueis, desfalcando e prejudicando constantemente o Santos Futebol Clube.
Por ora, é só! Deixe seu comentário e até o próximo post!
Edmar Junior
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