Pelé, ontem, hoje… sempre

A publicação do texto que segue no Blog DNA Santástico foi gentilmente autorizada pelo autor e ex-narrador esportivo Sr. Flávio Araújo. O texto é matéria originalmente publicada no site: Ribeirão Preto Online.

PELÉ, ONTEM, HOJE… SEMPRE

Costumava levar meus filhos aos estádios onde Pelé se exibia sempre que o Santos jogava em São Paulo, no Pacaembu ou no Morumbi.

Mesmo que não estivesse escalado para transmitir o cotejo e aí o prazer era ainda maior: era só mesmo degustar.

É verdade que até o velho e sempre bem lembrado campinho da rua Javari já foi cenário para as estripulias futebolísticas do Rei.

Só poucos privilegiados viram a famosa chapelaria.

Nem câmeras de televisão para acompanhar o que meus olhos viram e retiveram.

E ele ainda nem fora coroado quando fez aquele espetáculo no dia distante no tempo e próximo nas minhas lembranças.

Foi logo ali à direita após as velhas porteiras do Brás.

Para Pelé o cenário não importava, se Vila Belmiro em Santos ou Parque dos Príncipes em Paris.

Se o velho Wembley pudesse falar protestaria quando foi posto abaixo  sem que em seu gramado Pelé nunca houvesse pisado.

Azar de Wembley.

Em Paris, bem me lembro, Pelé fez o velho estádio de Colombes reviver seus dias de glória.

Foi como se estivesse outra vez engalanado para receber a Olimpíada de 1924 ou a Copa do Mundo de 1938.

Foi num Brasil 3 França 2, que transmiti bem de pertinho em 1963.

Pelé se contentou em fazer apenas os 3 gols brasileiros naquela mais do que histórica rua Javari dos franceses.

Na Copa da FIFA de 1938 reinou um outro brasileiro chamado Leônidas da Silva.

Não vou perder o caminho por onde comecei.

Levava meus filhos mais amiúde quando me uni à campanha que o Jornal da Tarde fazia na época próxima ao fim dos tempos de Pelé no Santos.

“Vá ver Pelé antes que pare”.

Valeu, ora se valeu.

Diz Milton Neves no prefácio que escreveu para meu livro “O rádio, o futebol e a vida” que sou o locutor brasileiro que transmitiu mais jogos de Pelé.

Releve.

Milton sempre me distinguiu como amigo e também jamais deixou de ter visões epifânicas.

Jamais somei e creio que não há nenhum Google que possa trazer uma informação confiável a respeito.

E também não se irradiava partidas de Pelé com exclusividade estando sempre presentes muitos companheiros de outros prefixos.

A única transmissão que me lembre ter feito com exclusividade foi aquela da luta de Eder Jofre contra Harada em 1965 diretamente de Nagoya.

Estou escrevendo tudo isso para dizer a vocês que me acompanham e que só me conheceram agora que vi Pelé o suficiente para poder compará-lo com outras cabeças coroadas do futebol.

Mesmo porque também vi todos esses outros que entraram nessa votação estapafúrdia do “Sports Illustrated” e que o “Time” repercutiu pelo mundo colocando Lionel Messi na capa e citando-o como novo rei do futebol.

Vi todos os que estão além e também os que ficaram aquém de Pelé nessa relação.

Nem deveria dar tanto valor ao fato, pois em tempos de internet votações as mais irreais surgem todos os dias e sobre todos os temas.

O assunto, porém, é tão absurdo que não posso me calar e deixar passar batido com o mesmo conformismo que um membro de um partido político da base do governo aceita e digere tudo o que vem do andar superior.

Se tenho conhecimento de causa e testemunhei sobre a mesma tenho que dar minha opinião.

Quando Pelé começou a ser conhecido internacionalmente o primeiro a fazer o papel de oposição aos valores do brasileiro foi o imenso Ferenk Puskas.

Tentou dizer o indizível enciumado já que era o rei não coroado incontestável da época no futebol europeu.

Acabou se desdizendo e reconhecendo os méritos de Pelé.

O mesmo aconteceu em termos quase idênticos com Di Stêfano.

Incrível, mas este, Dom Alfredo Di Stêfano, um maravilhoso atacante argentino que até hoje é reverenciado pelos espanhóis e por todos os que o viram em ação não faz parte dessa lista onde Pelé foi relegado ao quarto lugar.

De todos os 10 primeiros da lista, Messi, Maradona, Cruyff, Pelé, Beckenbauer, Yashin, Platini, Bobby Moore, Zidane e Puskas, nessa ordem, irradiei muitas partidas, com exceção de Messi e Zidane a quem só acompanhei por televisão, mas também num vastíssimo número de jogos.

A Messi acompanho sempre, seja pelo Barcelona, brilhante, seja pela seleção da Argentina, nada além de uma ilusão.

Tenho sobre o mesmo uma impressão muito especial, sou admirador de seu futebol e nutro um baita respeito pela sua figura humana de um valor imensurável.

Vejo no mesmo muitas afinidades, se não com o Edson, sempre com o Pelé.

Faço questão de enfatizar que não entro em cogitações sobre Neymar que para mim ainda é promessa.

Risonha sim, mas promessa e um dos fatores é exatamente aquele ponto em que estabeleço similitudes entre Pelé e Messi.

Mesmo em épocas tão distintas Pelé e Messi são tão somente figuras do futebol.

Pelé não usou em seu tempo e Messi não usa agora o marketing profissional, a visão fabricada que está colocando o popstar Neymar acima do craque Neymar.

Futebolista não precisa necessariamente ser um popstar produzido embora às vezes isso ajude, mas, em termos, fique claro.

É possível que Neymar ainda venha a ser comparado a Messi, é possível.

Mas, terá ainda que comer muito feijão e marcar muitos gols iguais a esse que a FIFA premiou para chegar a tanto.

E o mesmo digo de Messi em relação a Pelé e esta era a razão inicial destes escritos.

De Maradona nem vou falar nada, o tema já é por demais batido.

Não gosto de comparações entre jogadores de épocas distintas embora no passado já tenha cometido a bobagem de julgar que Messi jamais ganharia de Ronaldinho, o gaúcho.

Perdi a comparação e sabem o por quê?

Porque o brasileiro se transformou em popstar e Messi continua sendo apenas jogador de futebol.

E bem profissional, coisa que Ronaldinho não é.

Muito diferente de seu xará, o Fenômeno, que sequer entrou na relação dos 10 mais dos norte-americanos.

Qualquer dia vamos organizar uma lista dos maiores jogadores de beisebol do planeta e colocaremos na mesma alguns nisseis lá de Presidente Prudente ou Paranavaí.

Seria o troco à altura já que existem excelentes “pitchers” e batedores por lá.

Essa é outra história, mas que serve bastante bem para embasar estes meus comentários.

Messi pode ter ainda um extraordinário futuro pela frente e Pelé já parou há mais de 30 anos.

Messi, Maradona e Cruyff são os 3 que os norte-americanos colocaram na lista à frente de Pelé.

Todos craques de primeiríssima qualidade.

Nenhum completo como Pelé.

Para começar Maradona, como Messi, não sabia cabecear.

Cruyff era um excelente criador de jogadas e também sabia fazer muitos gols.

Pelé, porém, sabia tudo e um pouco mais.

Quem viu, sabe que falo a verdade.

Armava, distribuía assistências, cobrava infrações e fazia gols de todo tipo.

Ajudava a marcar também?

Pois se pegou até de goleiro …

O dia em que um jogador de futebol atuar por mais de 1.367 partidas e marcar mais de 1.283 gols e ainda ajudar a ganhar 3 Copas do Mundo pela seleção de seu país que se candidate a botar em sua cabeça a coroa de rei do futebol.

O resto é pesquisa junto a um grupo definido ou através de votos aleatórios e interesseiros na internet.

Outra bem diferente é a voz que ressoa dos gramados.

O certo é que vivemos outra época, outros são os valores, já há na nossa imprensa gente defendendo que Neymar só será grande de verdade quando for para a Europa.

Quer besteira maior?

A verdade é que os gramados ainda não registraram ninguém que os pisasse com mais ou igual categoria que Pelé.

Não chego ao ponto de dizer que isto é impossível “per omnia”…

Nada na vida é impossível.

Só lamento que se um dia isso acontecer meus olhos já estarão fechados.

Porque enquanto ainda bem abertos como agora não vejo nessa lista toda arrumada pelos norte-americanos ninguém melhor que Pelé.

Mesmo tendo visto todos.

(Flávio Araújo)


Saiba mais sobre Flávio Araújo

Flávio Araújo, nasceu na cidade paulista de Presidente Prudente, lá iniciou sua carreira no rádio em 1950.

Depois militou no rádio esportivo e na imprensa esportiva da cidade de São Paulo cerca de 30 anos.

Trabalhou de 1957 até 1982 na Rádio Bandeirantes, onde se consagrou um maravilhoso narrador esportivo.

Flávio Araújo em 1960 narrando pela Rádio Bandeirantes, em Cáli, na Colômbia.

Encerrou suas atividades na cidade de São Paulo em 1986 na Fundação Cásper Líbero como Superintendente de Esportes da Rádio e TV Gazeta, nos tempos do saudoso Constantino Cury no comando do tradicional grupo de comunicação da Avenida Paulista.

Posteriormente trabalhou por mais 10 anos como comentarista esportivo na Rádio Central de Campinas-SP (de propriedade do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia).

Flávio Araújo também foi co-proprietário da Rádio Cultura-AM de Poços de Caldas-MG.

A narração do milésimo gol do Rei Pelé escolhida pelos produtores do filme Pelé Eterno para integrar a obra é de Flávio Araújo.  Aliás, segundo Milton Neves, Flávio Araújo foi o locutor que mais narrou jogos do glorioso Santos Futebol Clube e gols do Rei Pelé.

Flávio Araújo e Milton Neves em 2001.

Ao longo de sua brilhante carreira transmitiu tudo sobre futebol, boxe, basquete e automobilismo.

Atualmente Flávio Araújo reside numa bela e tranquila cidade do interior paulista, onde ainda milita com histórias do futebol escrevendo colunas para sites e jornais.

Vale a pena conferir abaixo entrevista concedida, em 2009, por Flávio Araújo para André York do Programa Arremate Final. Contém áudios espetaculares de narrações de Flávio Araújo.



Bom, é isso aí! O Blog DNA Santástico, na figura de seu mantenedor Edmar Junior, agradece ao Sr. Flávio Araújo pela autorização para publicação de vossos textos no blog e parabeniza-lhe pelos excelentes serviços prestados ao esporte ao longo de toda sua trajetória.

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