O Mané do Santos

O nome é grande assim como foi seu talento em campo, Manoel Maria Evangelista Barbosa dos Santos.

Manoel Maria - Blog DNA Santastico (2)

Nascido em 29 de fevereiro de 1948, Manoel Maria começou a jogar futebol em Santarém-PA, em clubes de bairro de pouca repercussão na cidade. Era atacante, mas parecia um malabarista de circo com a bola nos pés. Seu pai, o Sr. Davi Nataniel era polivalente na vida profissional e sempre estava viajando de lugar em lugar para trabalhar. Numa dessas viagens foi para Belém-PA, onde levou toda a família. Enquanto trabalhava, o garoto estudava e jogava bola, na escola ou nos campinhos aonde foi notado.

Seu pai sabia da sua habilidade e o incentivava. Ainda iria completar 14 anos, quando foi jogar na Juvenil do Clube do Remo. Com pé direito ganhou o seu 1º título de campeão. Era previsto um futuro promissor ao jovem craque dentro do Leão Azul, mas, seu pai tinha que voltar para Santarém, o trabalho tinha terminado.

Sr. Davi Nataniel acabou entrando em acordo com o filho e os dirigentes do Clube do Remo, Manoel Maria ficou. Mas, as coisas mudaram quando o garoto sofreu uma fratura no braço direito, sentiu que os cartolas o desprezaram e logo falou com seu pai, que o mandou retornar para Santarém. Neste ponto iniciou a sua trajetória de sucessos no São Raimundo.

Ainda muito jovem foi apresentado pelo seu pai ao treinador João Pinto, e disse: “Esse garoto tem condição de jogar até no titular do Pantera (São Raimundo)”. Ao ver o corpo franzino do garoto, o treinador sacudiu a cabeça negativamente para o Sr. Davi Nataniel e falou: “Onde tem jogadores do calibre adulto como Mazinho, Inacinho, Pedro Nazaré, entre outros, ainda é cedo para esse garoto”. Sr. Davi Nataniel com seu jeito calmo e de visibilidade ímpar dentro do futebol, respondeu ao João Pinto: “Dê para ele uma chance entre os titulares, somente uma chance!”. Depois desta chance Manoel Maria foi campeão pelo São Raimundo e pela Seleção Santarena no Intermunicipal do mesmo ano, 1966.

Ele apareceu tanto em Belém, que os três na época melhores times do Pará, o Remo, o Payssandu e a Tuna Luso correram atrás para ter o craque. Sr. Davi Nataniel experiente quis a Tuna Luso. Lá o seu filho jogaria tranquilo com o seu futebol. Em campo Manoel Maria acabou com os pobres laterais. Belém ficou pequena demais para ele.

Sr. Davi Nataniel e o presidente da Federação, Dr. Peres, que se tornou fã do garoto bom de bola queriam ver o craque nos grandes clubes do país. E como estava se formando a Seleção Olímpica Brasileira, o presidente foi a CBD, em reunião indicou Manoel Maria para a seleção contando em poucas palavras o grande jogador que era o seu indicado. “Se ele é isso mesmo, o jogador será convocado”, respondeu o todo poderoso da CBD, João Havelange. Quando a lista saiu, não constava o nome de Manoel Maria. Sr. Davi Nataniel estava junto com Dr. Peres e o incentivou a ir novamente até a CBD. O Dr. Peres não se intimidou, mandou uma carta diretamente ao presidente João Havelange, comunicando, que o seu jogador não constava na lista de convocado. Pagaria as despesas de passagens, só queria uma chance para ele na seleção. João Havelange, “sensibilizado” com a carta do amigo, abriu um precedente inédito na sua gestão e mandou convocar Manoel Maria. No seu primeiro dia de treinamento, ficou desconfiado, tinha três pontas direita e o titular era  Cafuringa, ponta titular do Fluminense. Quando entrou no coletivo faltavam 10 minutos para acabar o treino, mas foi o suficiente para o treinador Zezé Moreira escolher ele como reserva de Cafuringa. No treinamento seguinte fez de Paulo Henrique, um lateral João, de tanto levar dribles desconcertantes. E assim virou titular na Seleção Brasileira Olímpica. Com moral de craque, Manoel Maria e Dr. Peres conseguiram algo inédito para aquela época, trazer a Seleção Olímpica para jogar em Santarém. E claro, o clube escolhido por Manoel Maria foi o seu São Raimundo. Caso muito contado na cidade, Manoel Maria jogou um tempo pelo São Raimundo e outro pela Seleção. O São Raimundo venceu a Seleção por 3×2.  

No Santos de Pelé & Cia

Manoel Maria - Blog DNA Santastico (3)

Após muito sucesso no futebol paraense, Manoel Maria foi contratado pelo grande Santos de Pelé.

Manoel Maria e Pele - Blog DNA Santastico
Manoel Maria e Pelé

No time do Rei, Manoel Maria foi espetacular, ainda muito jovem conseguiu a camisa nº 7 do lendário Dorval, e quando a torcida viu o garoto jogar partidas consecutivas, não deixou por menos, começou a chamá-lo de Mané, uma continência esportiva ao melhor ponta direita do mundo, Mané Garrincha.

Santos FC - 1969 - Blog DNA Santástico
Equipe do Santos em 1969, no Maracanã, antes da histórica partida do milésimo gol de Pelé contra o Vasco. Em pé: Carlos Alberto Torres, Agnaldo, Ramos Delgado, Djalma Dias, Clodoaldo e Rildo. Agachados: Manoel Maria, Lima, Edu, Pelé, Abel e o massagista Macedo.

Veja abaixo um vídeo da estreia do Santos no Campeonato Paulista de 1969, o Peixe que voltava da famosa excursão das guerras paralisadas goleou impiedosamente o XV de Piracicaba na Vila com uma atuação memorável de Manoel Maria que também marcou um belíssimo gol na partida:

No Santos, Manoel Maria atuou de 1968 a 1973 e 1976, fez em 174 partidas oficiais, marcou 34 gols em partidas oficiais e mais 3 em partidas não oficiais  e conquistou os seguintes títulos:

– Campeão da Taça de Prata – Roberto Gomes Pedrosa (1968);
– Campeão da Recopa Sul-Americana Inter-Clubes (1968);
– Campeão do Torneio da Amazônia (1968);
– Campeão Paulista (1969/1973);
– Campeão do Torneio Hexagonal do Chile (1970);
– Campeão da Taça Cidade de São Paulo (1970).

Dentro do Santos como titular, conheceu sensacionais craques da época e desenvolveu tanto o seu futebol, que acabou tendo seu nome bastante repercutido entre os jogadores selecionáveis para a Seleção que iria disputar Copa do Mundo de 1970 no México.

Enquanto o técnico Zagallo cuidava da Seleção, o Santos utilizava-se do grande prestígio que conseguiu fora do Brasil e preparava-se para uma excursão à Europa, Manoel Maria era nome certo para essa viagem com o clube, pois algumas feras do Santos já estavam servindo a Seleção. Neste mesmo período, o ponta-direita do Botafogo Rogério era a notícia na Seleção, pois tinha se contundido gravemente. Rogério era o reserva do também botafoguense Jairzinho na ponta-direita. A diretoria do Santos acabou determinando que Manoel Maria não viajasse com a delegação do alvinegro praiano para Europa, pois a qualquer momento ele poderia ser convocado para o lugar de Rogério na Seleção.

A expectativa era grande dentro do clube, por mais um atleta do time na Seleção. Dias passaram e o assunto Rogério era sério mesmo, a convocação era questão de tempo, porém,  Zagallo inventou e acabou convocando para o lugar do ponta-direita, o goleiro Leão. Frustração total para os santistas e alegria para os palmeirenses.

Desolado, Manoel Maria perdeu muito com a não convocação e por não poder ter ido a excursão do seu clube. Teve que ficar todo esse período, apenas treinando entre o time de base e cumprindo seu papel civil, já que servia o exército na época.

Foi justamente no decorrer desses dias, que ele sofreu o acidente que praticamente o aniquilou do futebol, ainda muito jovem, quando seguia em seu carro para o quartel. A fatalidade afetou sua forma física, Manoel Maria nunca mais recuperou a plenitude.

Ainda assim, o craque seguiu carreira e defendeu várias equipes depois que saiu do Santos.

Em determinada época, quando o Rei Pelé foi jogar no Cosmos e difundir o futebol no USA, o Rei não se esqueceu do amigo Manoel Maria e o levou para lá também, onde pode ganhar alguns dólares.

Depois do Cosmos, os dois mantiveram contato, Pelé virou o Atleta do Século e Manoel Maria descobridor de talentos e empresário do ramo, a amizade permanece até hoje.

Manoel Maria e Pele - 01 - Blog DNA Santastico

Créditos: texto adaptado à partir das Memórias e Crônicas de Raimundo Golçalves | Vídeo Wesley Miranda | Assophis

CURIOSIDADE

A data de aniversário do Manoel Maria só ocorre em ano bissexto (de 4 em 4 anos), sendo assim ele que foi um dos grandes jogadores da história do Santos Futebol Clube pode ser considerado ainda um “Menino da Vila”, rs.

Manoel Maria - Blog DNA Santástico
Manoel Maria

Além de ter sido um grande craque em campo, Manoel Maria é também uma pessoa atenciosa e muito divertida.

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Manoel Maria e Edmar Junior

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