Uma história na época de ouro do grande Santos

O texto que segue abaixo reproduzido no Blog DNA Santástico foi extraído de coluna originalmente publicada no site Ribeirão Preto Online pelo jornalista e ex-narrador esportivo Sr. Flávio Araújo, amigo que tive a honra de conhecer pessoalmente lá em Águas de Santa Bárbara, cidade na qual meus pais residem.

Flavio Araujo - Blog DNA Santastico
Sr. Flávio Araújo

O texto trata-se de uma passagem romântica e ao mesmo tempo insólita contada ao Sr. Flávio Araújo pelo seu grande amigo Sr. Lázaro Piunti, lá da cidade de Itu.

Para que mais pessoas tivessem o direito de saber do fato que não poderia ficar restrito a ambos, o Sr. Flávio pediu ao amigo que fizesse um resumo.

É o relato do homem de Itu que se segue literalmente.

UMA HISTÓRIA NA ÉPOCA DE OURO DO GRANDE SANTOS

“No período de setembro de 1998/dezembro/99 ocupei a vice-presidência da CDHU e na Diretoria conheci o lendário doutor Clayton Bitencourt Espinhel, alto dirigente santista na fase áurea de Pelé.

Guardo comigo diversas histórias contadas por ele.

Dentre elas destaco este episódio.

O time de Vila Belmiro acertou um jogo amistoso nos Estados Unidos (New York) enfrentando o poderoso Benfica de Portugal.

Por diplomacia a diretoria santista convidou João Mendonça Falcão – presidente da Federação Paulista de Futebol (1955/1970) – para chefiar a delegação praiana.

No dia do jogo (21.08.1966) quando a comitiva almoçava no hotel, doutor Clayton, vice-presidente de futebol do Santos foi chamado ao telefone.

Na outra ponta da linha estava o ex-Presidente do Brasil, Juscelino Kubistchek de Oliveira.

Juscelino Kubistchek
Juscelino Kubistchek

Com simplicidade Juscelino informou estar hospedado em um hotel nova-iorquino com as filhas Márcia e Maria Estela e uma sobrinha.

Disse que as meninas gostariam de ir ver Pelé jogar e se ainda havia possibilidade de adquirir os ingressos.

Doutor Clayton prometeu os bilhetes e se prontificou ir ao hotel entregá-los pessoalmente.

Ao dar a notícia para o pessoal que já saboreava a sobremesa, Mendonça Falcão demonstrou irritação.

Disse ser um absurdo o contato com o ex-presidente, que tivera seus direitos políticos cassados.

E mais: recusou seu lugar no ônibus na hora de ir ao estádio, preferindo alugar uma limusine.

Na verdade, o cartola queria evitar um encontro com o homem cassado pelos militares que dominavam o País.

Falcão apoiava o regime.

Doutor Clayton me contou que, no trajeto até o hotel de Juscelino chamou o trio pensante da equipe – Gilmar, Zito e Pelé – para uma conversa.

Indagou o que achavam de convidar o ex-presidente do Brasil e as moças para ocuparem um lugar no ônibus, do hotel ao estádio.

Sob a liderança de Zito e com a concordância de Gilmar e Pelé a ideia foi imediatamente aceita.

Na porta do hotel avistaram Juscelino e enquanto doutor Clayton foi cumprimentá-lo, Zito avisou os atletas para suspenderem a algazarra no interior da condução.

Iriam ter a honra de acolher o importante homem público que presidira até recentemente o país, acompanhado das três belas moças.

Para resumir: momentos após o início do jogo a imprensa nova-iorquina descobriu a presença de Juscelino e os microfones do famoso “Randalls Island Stadium of New York” anunciaram o fato.

Imediatamente os 25.670 expectadores se puseram em pé e o aplaudiram delirantemente.

Juscelino, conhecido pela sua formação democrática e espírito empreendedor, era figura extremamente respeitada nos Estados Unidos.

Na manhã seguinte os principais jornais nova-iorquinos davam maior destaque ao grande brasileiro que ao próprio jogo vencido pelo Santos por 4 a 0.

O craque do Benfica Eusébio e o Rei Pelé
O craque do Benfica Eusébio e o Rei Pelé

Mendonça Falcão, um político menor (deputado estadual na época) lamentou profundamente ter sido ignorado.

Graças ao meu amigo Sérgio Roberto Mazurchi, cujo arquivo de futebol é fantástico, é possível apresentar a ficha técnica da partida que Juscelino assistiu.

Santos F. C.: Gilmar; Carlos Alberto, Oberdan, Orlando e Lima. Zito e Mengálvio. Dorval (Amauri), Toninho Guerreiro, Pelé (Salomão) e Edu. Técnico: Luis Alonso (Lula).

S.C. Lisboa e Benfica: Costa Pereira; Caven, Raul, Jacinto e Cruz. Jaime Graça e José Augusto (Iaúca). Torres (Nelson), Eusébio e Simões. Técnico: Fernando Riera.

Resultado final: Santos 4 Benfica 0.

Marcadores: Toninho, Edu (2) e Pelé. Público: 25.670. Local: “Randalls Island Stadium New York” em 21 de agosto de 1966.”

 Lázaro José Piunti

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Está ai, pois, o relato literal do que escreveu Lázaro José Piunti lá de Itu e que o mundo vai conhecer depois desta edição neste site pela penetração veloz e constante da Internet.

Acima de tudo serve para atestar não somente o registro de um momento histórico na época dourada do nosso futebol, mas acima disso a simbologia gravada em letras que o tempo não apagará de um atestado do quanto o futebol pode se constituir em entendimento universal unindo os homens de boa-vontade em quaisquer circunstâncias.

(Flávio Araújo)

Saiba mais sobre Flávio Araújo

Flávio Araújo, nasceu na cidade paulista de Presidente Prudente, lá iniciou sua carreira no rádio em 1950.

Depois militou no rádio esportivo e na imprensa esportiva da cidade de São Paulo cerca de 30 anos.

Trabalhou de 1957 até 1982 na Rádio Bandeirantes, onde se consagrou um maravilhoso narrador esportivo.

Flávio Araújo em 1960 narrando pela Rádio Bandeirantes, em Cáli, na Colômbia.

Encerrou suas atividades na cidade de São Paulo em 1986 na Fundação Cásper Líbero como Superintendente de Esportes da Rádio e TV Gazeta, nos tempos do saudoso Constantino Cury no comando do tradicional grupo de comunicação da Avenida Paulista.

Posteriormente trabalhou por mais 10 anos como comentarista esportivo na Rádio Central de Campinas-SP (de propriedade do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia).

Flávio Araújo também foi co-proprietário da Rádio Cultura-AM de Poços de Caldas-MG.

A narração do milésimo gol do Rei Pelé escolhida pelos produtores do filme Pelé Eterno para integrar a obra é de Flávio Araújo.  Aliás, segundo Milton Neves, Flávio Araújo foi o locutor que mais narrou jogos do glorioso Santos Futebol Clube e gols do Rei Pelé.

Flávio Araújo e Milton Neves em 2001.

Ao longo de sua brilhante carreira transmitiu tudo sobre futebol, boxe, basquete e automobilismo.

Atualmente Flávio Araújo reside numa bela e tranquila cidade do interior paulista, onde ainda milita com histórias do futebol escrevendo colunas para sites e jornais.

Vale a pena conferir abaixo entrevista concedida, em 2009, por Flávio Araújo para André York do Programa Arremate Final. Contém áudios espetaculares de narrações de Flávio Araújo.



Bom, é isso aí! O Blog DNA Santástico, na figura de seu mantenedor Edmar Junior, agradece ao Sr. Flávio Araújo pela autorização para publicação de vossos textos no blog e parabeniza-lhe pelos excelentes serviços prestados ao esporte ao longo de toda sua trajetória.

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