Bloco da Bola Alvinegra

“Aquele time do Santos parecia um bando de papagaios. Falava mais que  a preta do leite… Termo muito usado em Santos (dito popular). Tudo foi muito bom… Fora das quatros linhas então, nem se fala. À gente vivia cantando… Cantávamos no trem, no ônibus, no aeroporto, no avião e no vestiário também… Nos dias de treinos ou de jogos, não importava. O nosso negócio era jogar Futebol e cantar. Nas excursões, na maioria das vezes, eu levava o violão… Mas, instrumento de percussão, nunca faltou: Pandeiro, Tamborim, Tantã, Reco-reco e etc. Aí esta a razão de tantas glórias… Derrota? Isso era de vez enquanto chorávamos pouco, nosso time era muito unido dentro e fora do campo.

Assim como a união faz a força, assim como que canta seus males espanta, nós éramos unidos e vivíamos cantando… Tudo era alegria. Chorar? A gente chorava sim, mas só quando perdia o jogo. De resto era só felicidade, era só alegria. Isso me faz lembrar do Bloco da Bola Alvinegra do Santos Futebol Clube que foi fundado por Virgilio Pinto de Oliveira (Bilu), Victor Lovecchio, Cândido Freitas e demais companheiros. Saiam em visita aos Clubes Sociais da Cidade, cantando uma Marcha Rancho composta por eles…”

Obs: Texto extraído do livro FUTEBOL X MÚSICA – Minha História e seus Detalhes (Capítulo 37, págs. 171 e 174), cujo autor é o ex-jogador e eterno ídolo do Santos Futebol Clube: Augusto Vieira de Oliveira (Tite).

Tite nos tempos de Santos, seu livro e com Edmar Junior
Tite nos tempos de Santos, capa do seu livro e com Edmar Junior

Bloco “Bola Alvinegra” fazia a festa do Carnaval santista

Bloco da “Bola Alvinegra” foi fundado no dia 14/01/37, para preencher a lacuna deixada com o término do Bloco “Flor do Ambiente”. São ao todo 28 os fundadores do Bloco: Ararê, Arary, Acary, Bom-peixe, Bilu, Cândido de Freitas, Dadá, Dionísio, Figueira, Hugo, Horácio, Isaias, Ivã, Krausch, Moacir, Mário Pereira, Novo, Neves, Odil, Oswaldo, Omar, Osmar, Orlando, Pereira, Saci, Victor, Vadico e Velho. Os fundadores eram, em sua maioria, associados e jogadores do Santos.

O autor da bonita música do Bloco foi o violonista Mazinho. A turma de Foliões que ajudou na fundação era comandada por Virgílio Pinto de Oliveira – o Bilu (foto) – que, além de ter sido jogador, foi também o técnico que levou a equipe santista a conquistar o primeiro título do paulista de 1935. Bilu era muito exigente com os componentes do Bloco. Ele obrigava todos a decorarem as músicas que iriam ser cantadas nas apresentações do grupo.

Virgílio Pinto de Oliveira – o Bilu
Virgílio Pinto de Oliveira – o Bilu

Nessa época, prevalecia o uso dos instrumentos de corda. Com isso, o Bloco se apresentava como um grupo de seresta. Por ocasião de sua primeira apresentação no Carnaval de 1937, o Bloco saiu com 36 integrantes, todos fantasiados de palhaços brancos e com roupas exageradamente largas. Nas bodas de prata, na antiga, sede da Itororó no segundo andar, foi o “Bola” que se apresentou num recital com muitas evoluções e um excelente repertório musical. O ponto alto das festividades foi o aplaudidíssimo recital do bloco carnavalesco.

Bloco da Bola Alvinegra
Bloco da Bola Alvinegra

Após as apresentações no desfile, o “Bola” que era composto por integrantes da elite santista, dirigia-se aos mais refinados clubes de Santos, tais como: Clube XV, Tênis Clube e outros sociais requintados da cidade. Além disso, frequentavam também os salões do Parque Balneário Hotel, no coração do Gonzaga.

A melhor época do grupo foi logo após a fundação, quando a sede do Peixe era na Rua do Itororó, nº 27. O “Bloco da Bola Alvinegra” não participava de disputas carnavalescas, normalmente abria o desfile no reinado de Momo, fosse nas ruas do Centro ou na Avenida da Praia.

Dois integrantes que ajudaram muito a continuar a tradição do Bloco, foram o Walmir Rocha e o Vitor Lovecchio, os quais garantiram a continuidade do “Bola” até a década de 60. Não era difícil também vê-los se apresentar após o desfile da praia, na residência do presidente Athié Jorge Coury, no Canal 3, e depois seguir até a casa de Modesto Roma, na Rua Alexandre Martins, com alguns jogadores da equipe principal do time santista.

Depois de uma parada de treze anos, coube ao torcedor portuário e atleta laureado santista, Juarez Guimarães a tarefa de continuar com as apresentações do “Bola”. As cores preta e branca e o hino do Santos estavam entre as tradições do Bloco. O “Bola Alvinegra” apresentou-se no carnaval santista de rua até meados da década de 80.

Bloco Carnavalesco Bola Alvinegra, fundado em 1937 por associados do Santos Futebol Clube. Nos anos em que participou dos desfiles oficiais do carnaval santista, nunca tentou concorrer aos prêmios oferecidos pela Prefeitura. Seus integrantes só queriam mostrar sua irreverência e alegrar o povo que prestigiava os desfiles. Sua principal característica é a figura do pierrôFoto: reprodução/acervo particular, publicada no Diário Oficial de Santos em 29/1/2005
Bloco Carnavalesco Bola Alvinegra, fundado em 1937 por associados do Santos Futebol Clube. Nos anos em que participou dos desfiles oficiais do carnaval santista, nunca tentou concorrer aos prêmios oferecidos pela Prefeitura. Seus integrantes só queriam mostrar sua irreverência e alegrar o povo que prestigiava os desfiles. Foto: reprodução/acervo particular, publicada no Diário Oficial de Santos em 29/1/2005

Letra da música do “Bola Alvinegra”:

O “Bola” nasceu no Santos
Numa noite de alegria
A turma é do barulho
Do amor e da arrelia

Ao “Bloco Flor do Ambiente”
Rendemos nossas homenagens
E ao bom povo santista
O “Bola” saúda e pede passagem

Nosso lema é cantar, jogar, brincar, sorrir
Tristeza não pagam dívidas
Queremos nos divertir

Rei Momo é da orgia
Seu reinado é colossal
E o “Bola” é seu vassalo
No reino do Carnaval

Obs: Texto do amigo Guilherme Gomez Guarche (Pesquisar e Historiador do Santos Futebol Clube) originalmente publicado em 08/02/2013 no site do Santos.

Guilherme Guarche e Edmar Junior
Guilherme Guarche e Edmar Junior

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