ASSÉDIO E CORAGEM SANTISTA

Conclui recentemente a leitura do livro “VIAGEM EM TORNO DE PELÉ” de 1963, cuja autoria é de Mário Filho, consagrado jornalista e escritor, que após sua morte em 1966 teve o nome emprestado na forma de homenagem ao antigo Estádio Municipal do Maracanã que passou a ser denominado oficialmente como Estádio Jornalista Mário Filho.

Capa do livro VIAGEM EM TORNO DE PELÉ
Capa do livro VIAGEM EM TORNO DE PELÉ

No livro Mário Filho relata os primeiros anos da biografia do Rei do Futebol, desde quando este ainda era apenas um menino apelidado de Dico, a chegada e primeiros anos no Santos Futebol Clube, passando pela consagração na Copa do Mundo de 1958 nos gramados da Suécia e finaliza com um capítulo sobre o reinado de Pelé.

Pelé e Mário Filho
Pelé com Mário Filho

E foi justamente este último capítulo do livro que mais chamou minha atenção, por dois pontos em especial:

  • O forte assédio que Pelé e os dirigentes do Santos recebiam dos times europeus que desejavam contratar o Rei do Futebol, a maneira como eles lidavam com isto e a semelhança de tal situação com o que vivenciamos nos dias atuais no que diz respeito ao também craque Neymar.
  • A coragem dos dirigentes do Santos Futebol Clube naquele tempo, até mesmo diante da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e como hoje em dia as coisas são diferentes.

O ASSÉDIO

Sobre o assédio ao Rei Pelé, na página 294, o autor conta que:

O Santos recebeu uma oferta de cinquenta milhões pelo passe de Pelé.

Viu-se, então, um rapaz de dezoito anos não se perturbar com os milhões do Real Madrid.

Pelé não tinha a menor dúvida de que a coroa era dele. Preferia o Brasil.

Modesto Roma (Dirigente do Santos) achou graça na proposta do Real Madrid. “Cinquenta milhões só?” O Real Madrid se dispôs a oferecer mais, a pagar o que o Santos quisesse.

“O Real Madrid – respondeu Modesto Roma –  não tem dinheiro para comprar Pelé.”

Modesto Roma
Modesto Roma

Já à partir da página 308, Mário Filho narra o assédio da Internazionale de Milão:

– Faça um preço, imagine uma cifra, não tenha medo de pedir muito. Peça alto. Queremos uma cifra – era o que diziam os italianos em telegramas angustiantes.

A resposta de Modesto Roma foi a de que não havia preço para Pelé. A mesma resposta que dera ao Real Madrid.

Modesto Roma recusava-se a pensar numa cifra. Rasgava os telegramas da Internazionale.

Na página 314, o autor conta que o Santos Futebol Clube estava em Paris e o Presidente Athié Jorge Cury não saía de perto de Pelé. Era para responder a uma pergunta invariável: Pelé será vendido?

Não há dinheiro que compre Pelé, respondia o Presidente Athié.

Já Pelé, apenas dizia:

– Eu sou jogador do Santos. Tenho um contrato e vou cumpri-lo.

Pelé e o Presidente Athié Jorge Cury
Pelé e o Presidente Athié Jorge Cury

Na página 327 o autor menciona o Pepe Gordo, um torcedor do Santos, que tratava dos negócios de Zito e ia tratar dos negócios de Pelé. Na primeira operação que fez para Pelé deu-lhe um lucro tão grande que o decidiu de vez. Pepe Gordo, porém, tinha uma condição:

– Eu quero um compromisso de honra: você nunca deixará o Santos.

Pelé assumira o compromisso. Pepe Gordo era Santos, mas era Pelé.

Pelé e Pepe Gordo
Pelé e Pepe Gordo

A partir da página 332, Mário Filho conta que:

O Santos havia conquistado o Torneio de Paris e seguiu para conquistar o Torneio da Itália, aclamado como o maior time do mundo. Era o time que tinha Pelé, nenhum outro time podia comparar-se ao Santos. A cada exibição de Pelé os clubes italianos aumentavam as ofertas para conquistá-lo. Pepe Gordo não deixava Pelé um só instante. Era Pelé, mas era Santos. Tinha a palavra de Pelé de que não deixaria nunca o Santos. Mas o que ofereciam  a Pelé era para abalar qualquer um. Primeiro foi o Inter: quarenta milhões de luvas, à vista, casa e carro. E era para começar a conversa.

– E você não precisa vir já. Esperaremos até depois do campeonato do mundo.

Pelé recusou:

– Não penso em sair do Santos ou do Brasil.

O dinheiro não era tudo. Sentia-se preso ao Santos, que lhe dera a oportunidade de jogar no escrete brasileiro com dezessete anos. E mais preso ao Brasil ainda.

Pepe Gordo ficou de coração parado quando a Juventus ofereceu a Pelé trezentos mil dólares. Se ofereciam assim trezentos mil dólares, de cara, chegariam a quinhentos mil.

Pelé não se perturbou.

– É muito dinheiro, mas não saio do Brasil.

Foi o que fez Pepe Gordo dizer:

– É Deus no céu e Pelé na terra.

Ao ler as situações acima mencionadas é impossível não ter a sensação de que atualmente estamos vivenciando a mesma história, espero que Neymar faça como Pelé e jamais deixe o Santos Futebol Clube.

CORAGEM SANTISTA

Na página 315, o autor conta que o Santos Futebol Clube de Pelé & cia estava dando show no Torneio de Paris, em paralelo a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) organizava um jogo entre brasileiros e chilenos em benefício das vítimas do terremoto no Chile e do desastre de Orós.

O Presidente Juscelino Kubitschek patrocinava a partida. Daí o esforço da CBD para trazer Pelé. O Santos respondeu que tinha um contrato a cumprir e que o contrato exigia a presença de Pelé em todos os jogos.

A CBD não abria mão de Pelé e ameaçou suspender a temporada do Santos. Enquanto os telegramas iam e viam, a partida Brasil e Chile foi realizada sem Pelé e o Santos continuou a temporada na Europa.

Finalmente a CBD tomou uma decisão: o Santos teria de regressar imediatamente, seria punido severamente se realizasse mais um jogo. Não havia, porém, mais necessidade de Pelé. O Santos fez um apelo. Teria de pagar uma multa pesadíssima se não acabasse a excursão. A CBD terminou concordando.

Bons tempos em que o Santos tinha força política nos bastidores e principalmente coragem para enfrentar até a então toda poderosa CBD, que mais tarde deu lugar a atual CBF, essa mesmo que nos dias atuais avaliza a convocação do craque Neymar para amistosos caça-níqueis, desfalcando e prejudicando constantemente o Santos Futebol Clube.

Por ora, é só! Deixe seu comentário e até o próximo post!

Edmar Junior
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